Quilombos do Rio
Ao considerar que o Brasil é um dos países das Américas com maior relação histórica com o continente africano, nesta exposição, buscamos tratar especificamente da questão quilombola. O ponto de partida é a ressignificação do termo quilombo, que teve início com a Constituição de 1988. Se antes o termo era relacionado à fuga de escravos e à criminalização, o vocábulo adquiriu outra conotação, estando presente nas reflexões, realizadas nas primeiras décadas do século XX, sobre as resistências negras no Brasil. Por volta da década de 60, figurou como símbolo de resistência por ativistas sociais e pelo movimento negro. Com a Constituição Federal de 1988, o vocábulo quilombo passou a ser demarcado como direito a ser obtido por populações afro-descendentes possuidoras de trajetória histórica, modo de vida e identidade relacionadas a atitudes de resistência ao sistema escravista, bem como aquelas caracterizadas por aquisição, obtenção ou ocupação de terras.
Segundo dados da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o Brasil possui 2.197 comunidades quilombolas reconhecidas, 2.040 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP), 1.229 processos aberto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 207 comunidades tituladas pelo Incra. No estado do Rio de Janeiro, existem 29 comunidades reconhecidas pela FCP, sendo duas tituladas pelo Incra.
O material fotográfico em destaque, que compreende elaborações de pesquisadores acadêmicos, bem como registros das comunidades por seus integrantes, explicita o visual como dimensão de discussão da luta por assegurar o direito à terra, bem como às comemorações ligadas ao reconhecimento das comunidades. Para compor o arquivo do Museu Afro Digital, os artefatos fotográficos são compreendidos como integrantes de lugares teóricos de entrada para a problematização da diferença, da identidade e do reconhecimento. Isto é, as fotografias são entendidas como documentos visuais que dizem, porque reinscrevem, como a diferença é articulada socialmente, como são elaboradas as estratégias identitárias, que apresentam signos e lugares de questionamento quando se trata de repensar a cidadania e os direitos. Cabe explicitar que para os moradores das comunidades quilombolas, as fotografias, gentilmente cedidas, são consideradas práticas de registro do movimento social, do cotidiano, das festas e também modo de comunicação da luta sempre realizada e renovada. Seus acervos pessoais dizem algo, permitem expor e pensar sobre as contradições da sociedade, bem como sobre a lógica do reconhecimento daquilo que se é, viabilizando refletir sobre mobilização política, religiosidades, arte, espaços, territórios e memórias.
Javier Lifschitz
Márcia Leitão Pinheiro
MATERIAL EM ARQUIVO
LOCALIDADE: Quilombo, Dores de Macabu, norte fluminense, visita da comunidade de Barrinha, São Francisco do Itabapoana, para recebimento do laudo antropológico.
FOTOS: Fernanda Conceição Bastos Freitas (FCBF)
ANO: 2010